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1. |
Hemingway
06:30
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É mesmo verdade que acabou
o que acabou será que chega a começar
quero outro toque de bom tom
o simples faz-se para acordar
E mergulhar para acabar o que é deixar o sinto muito
nunca dar sem por isso ter
não quero amar nunca mais
É mesmo verdade que acabou
há outro peito para encher
o fumo verte álcool a mais
será que há mais para beber
E mergulhar para recomeçar
querer o princípio de mais um dia
e o Verão há-de acabar
que venha o Inverno para me resgatar
Não, uma canção de amor não vive aqui
mas sim, se quiseres falar de amor não me digas a mim
Não, um acordo não é para cumprir
deixa que o mar volte para eu sumir
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2. |
Marcha
03:36
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Não sei se me fartei se te disse que não
mas na verdade é não
não é mais possível solução.
Roer a corda à espera que parta
a corda não existe
não há cadência de desejo
senão a luz abençoada
das mostras de dó
Não sei se te disse o quanto te odeio
a ti e ao teu jeito
cheio de mal pegado
na permanência insistente
de um “eu sei” e “não é bem assim”
a idade faz-nos isso
põe-nos cépticos e estúpidos
capazes de achar que a delicadeza
é coisa do passado.
Não me faças dizer o quanto está mal.
Não me faças dizer o quanto estás mal.
Não me faças dizer o quanto estou bem.
Não sei se é a noite ou não querer dormir
se é a manhã que olha para mim a rir
se é dinheiro mascarado de noção
se é o carro que não é meu
ou a puta que te pariu
Quem me faz achar que um dia tudo acerta?
quem me faz achar que um dia tudo acaba?
A mudança não acerta
o sentido é descoberta
e rumar em direcção
à soma melhor
é subir mais uns andares de elevador.
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3. |
Praças
03:42
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E os quadros
perdidos e achados no quintal
fizeste-os dados
lançados noutra mesa
com um prazer fora do normal
mas com as fotos eu
esperava achar-me bem melhor
não vi fotos não
mas neste prova que se desdobra
não me vais deixar passar
Pára o sono da lembrança que me abarcou
e na memória que ficava ela veio sim
ela voltou
e não se diz que é o que não se quer
pintaram duas praças no lugar de uma mulher
Depois deitados
fumamos cigarros a querer morrer
pintamos laços e lassos ficamos a ver-nos sofrer
em quantas horas deixaste que te perdessem
por não te verem
quiseste a força
para te manteres
e deixares outra vez
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4. |
Corda
03:21
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Vitória disse ela
com os trunfos na mão
não se via nada
só tristeza de desilusão
Nunca quis
em tempo algum
que se desse à perdição
mas ela sabe
e há-de ver
na palma da mão
Forjam-se palavras
sentidos e emoções
ela diz que quer que a abras
faz sentido pois teve premonições
Mas na verdade
amor que quis
no seu íntimo
dobra-o em mil
e se um dia
se desfizer
estarei com lobos
no seu covil
E agora que partes me fazem
sem o teu amor
que partes me fazem
Na migração
eis que vens
és tu e eu
na migração
eis que vens
és tu.
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5. |
Salmão
04:10
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Há retratos nas mentes de quem quiseres ver
estranhos factos, coisas impossíveis de acontecer
quantos relatos terás mais tu que fazer
para eu perceber de onde és tu Salmão
Quantas vezes mais
quantas vezes vais
tu abraçar-me outra vez
Há espelhos que acabam por partir
estranhos reflexos só me fazem fugir
que batôn terás tu que pôr
para apagar essa dor
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6. |
Barco
02:55
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Refém
quem se baixa e não tem
conforto histórias de ninguém
e formas para se acabar
por dar a alguém
que promete a vida toda
dinheiro amor e uma foda
motivos para a liberdade
tu és quem?
mulher deitada sem querer
morrer por outro ou aqui morrer
ficar sem querer maioridade
para quê?
imposto feito à saudade
futuro feio de verdade
e brincadeira de razões.
Monções
o vento corre de cimeira
estive acordado a noite inteira
e não vejo nada a mudar.
Não dá.
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7. |
Vá
03:37
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Ás, uma carta mais na mesa
jaz aqui toda a certeza
capaz somente nesta natureza
de te ver certa de ti
Rapaz, não foste mais que um pássaro
atrás, para quê passar-lhe um traço
não me digas, não me olhes
pois a certeza de tudo passa
é só lavar esta desgraça
Mas vá, deixa-me dizer o que sinto
vá, é só sentires que não minto
A vida passa a correr
não vês que é contigo que quero morrer
Mas quais os remendos que puseste
na esperança de ti
que coisas é que fizeste para não me teres aqui
o que eu quero não me manda
fui rasgado noutras demandas
e agora já nem sei
porque me queres para ti
Mas vá, é melhor dizer o que sinto
vá, quantas vezes achas que eu minto?
Não há nada mais a fazer
não vês que tenho que sair
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8. |
Morna
03:12
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É como se um dia contasse menos
são os dias que se perdem a contar pelos dedos
Não me pega força a estalar os ossos
sei que há outra volta ao cair do pano
É o que é, nunca há
rua para andar
sopro fácil acabar
E a trave que segura
morna na altura
se falas sempre ou não
não é fácil veres quem são
Lembra-te quem te viu aqui
sabes dizer quem se deixa só para ti
melhor ficar calado
apelar à mesma mão
ver o sol há-de ser melhor
O que se passa de dia
e tanto que vês
a casa vazia
e o som sem ser
Na varanda do quarto há uma cadeira
uma mesa dobrável e um cinzeiro
é tanto trabalho raso
carro, móveis, tapetes e televisão
contas que contas acabem
e os amigos adiarem
Eu aposto que eu ia
e largava tudo
é melhor o dia
dentro de um país mudo
mas eu hei-de aprender a falar
eu hei-de aprender a entender
o que nos faz fugir
e não nos deixa dormir
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9. |
Sobre
05:48
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Não é como se eu estivesse cá
lembras-te de ontem?
Era tempo de mudar
e com quem foste?
o que é que disseste?
pudesse eu partir daqui
partir-te os dentes todos a ti
somar tudo o que não tive
vingar-me da forma mais bruta
chamar-te de filho da puta
e tudo o que sobrar fica para ti
Outras há
outros são
sorrisos de estação
já soube que te quis chamar
fico fico
a querer o que eu gostar
Vou-te explicar tudo
assim como se fosses muito burro
ninguém se há-de fazer valer
um dia corres no outro fazes correr
É que a mim não
não há nada que eu goste na televisão
já foi tempo que tudo deixasse ser
canais abertos a ensinar a viver
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10. |
Putos
05:52
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Se é por voltar aqui por ti
mais que ficar por mim ruim
não sou tão bom que fosse simples crer
mais que um intruso, amante de beber
se é para continuar dali para aqui
não é para me deitar sem ver porquê
sem razões para poder
amar mais sem nunca ser
qualquer dia ser maior
ao redor de nós
E eu que nunca quis
já sou maior
Se é por não mais ver
se é por não mais ser
se é por continuar
se é por não amar
se é por digerir
se é por não gerir
se é por não parar
se é para mudar
Já sou maior.
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